domingo, 30 de agosto de 2009

PROFISSIONAIS VOLTAM AINDA ESSE ANO

MATÉRIA PUBLICADA NO JORNAL DO COMMERCIO
O futebol profissional do Clube Atlético do Porto será reativado ainda este ano, tendo em vista a disputa do Campeonato Pernambucano de 2010. A garantia foi dada pelo presidente do time, José Porfírio de Oliveira, que está preso na Penitenciária Juiz Plácido de Souza, em Caruaru. Ele aceitou conversar, com a reportagem do Jornal do Commercio, em uma área de convivência do pavilhão A da unidade, mas não sem antes fazer duas exigências: não queria ser fotografado naquele ambiente e também não queria responder perguntas sobre o processo que corre contra ele na Justiça. Os assuntos seriam estritamente futebol e sua vida no cárcere, além das complicações de comandar um clube de dentro da cadeia.

Fundador do Clube Atlético do Porto, em 1993, e um dos empresários mais bem sucedidos do Agreste do Estado, José Porfírio de Oliveira foi preso há 64 dias, acusado de sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. De acordo com a Operação Sonho de Valsa, do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), as empresas dele deixaram de arrecadar para os cofres pernambucanos R$ 44 milhões em Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Caso condenado, Porfírio pode pegar até 15 anos de prisão.

Ele se diz adaptado ao dia a dia dentro da Penitenciária de Caruaru. Mas seu olhar abatido e triste revela uma outra realidade. O fundador do Porto está bem mais magro e sem a retórica altiva que lhe caracterizava. Agora, fala manso, em tom baixo e desmotivado, em meio ao ar abafado e sufocante de uma unidade superlotada – 948 presos ocupam a área que seria destinada a apenas 98 detentos.

O empresário dorme em um colchonete dentro da cozinha do presídio e guarda suas coisas em uma sacola plástica que fica pendurada em um prego na parede do corredor do pavilhão A.

“A vida aqui realmente não é fácil, mas estou tranquilo. Não passei noites sem dormir ou parei de me alimentar. Acho que estou me saindo bem, tenho uma cabeça bastante equilibrada”, garantiu José Porfírio, que pretende permanecer à frente do Porto até o fim de seu terceiro mandato, em dezembro de 2011.

A paixão que antes era incondicional pelo futebol também esmoreceu no cárcere. O presidente do Porto não se reuniu uma vez se com os outros detentos, em frente aos poucos aparelhos de televisão que existem na unidade, para acompanhar uma partida.

Segundo ele, falta-lhe motivação. Prefere dedicar seu tempo a “observar o movimento de outros presos dentro da penitenciária”, demonstrando ainda certo receio em meio a homens acusados de homicídios, assaltos e outros crimes.

A principal distração do presidente do Gavião, durante o dia, são as partidas de xadrez com outros três detentos, em um tabuleiro levado pela própria família dele. Em meio ao jogo, José Porfírio confessa que pensa nos obstáculos que terá pela frente para disputar o Campeonato Pernambucano do ano que vem.

Com a sua prisão, em maio, o clube caruaruense deixou de disputar a Série D do Campeonato Brasileiro e, por isso, amargou enormes prejuízos. Patrocinadores e antigos parceiros correram do Porto com medo de ter suas imagens associadas a do empresário. “Será um grande desafio, mas quem disse que a vida é fácil?”, finalizou.


DEMITIR FUNCIONÁRIOS FOI A DECISÃO MAIS DOÍDA
Foi com tristeza estampada no rosto que o presidente do Porto, José Porfírio de Oliveira, falou sobre a decisão que precisou tomar no início deste mês. Com as dívidas do Gavião crescendo, foi obrigado a demitir quase 100 pessoas, entre atletas da base e funcionários do Centro de Treinamento Ninho do Gavião, em Caruaru.
O CT, que é referência no Nordeste, foi erguido em uma área de 18 hectares de propriedade do próprio dirigente. Há cerca de cinco anos, Porfírio doou o terreno para o clube.
“Me cortou o coração ter que demiti-los. Esta nunca foi a política adotada no Porto. Mas chegamos a uma situação insustentável, e precisei tomar esta decisão. Por um instante, esqueci do meu drama aqui dentro e lembrei da situação destas pessoas”, contou José Porfírio.
No Centro de Treinamento Ninho do Gavião, os garotos das divisões de base treinam em dois períodos, acompanhados por treinadores, preparadores físicos e fisiologistas. Os atletas se alimentam no clube, além de terem direito à assistência médica e reforço escolar. Durante a semana, a maioria dorme no CT.
A estrutura do Ninho do Gavião é digna dos principais centros de treinamento do País. São três campos de dimensões oficiais, dois minicampos e três vestiários, além de moderna sala de musculação. Como os investimentos foram feitos ao longo dos 16 anos de fundação do CT, ninguém no clube sabe ao certo precisar quanto foi gasto por lá.
“Sei apenas que oferecemos uma estrutura digna para estes garotos se tornarem atletas profissionais do futebol. Mas, com a minha prisão, este desafio se tornou ainda maior. Só que continuo confiante que tudo dará certo”, concluiu.

DIAS DE VISITA SÃO DIAS DE INFORMAÇÃO
As decisões sobre o destino do Clube Atlético do Porto são tomadas de dentro da Penitenciária Juiz Plácido de Souza, em Caruaru. José Porfírio de Oliveira disse que faz questão de estar ciente de tudo o que acontece no clube que fundou em 1993. Cabe ao gerente de futebol, Borges Carvalho, nos dias de visita da unidade, a missão de deixar o mandatário do Gavião do Agreste informado. Foi do pavilhão A do presídio que saiu a ordem, para que comecem a ser compradas as passagens para os garotos que vão disputar a Copa São Paulo de Juniores, em janeiro de 2010, na capital paulista, apesar das dificuldades financeiras enfrentadas pela equipe.
“Independente da minha situação com a Justiça, o Porto estará na disputa da Copa São Paulo de Juniores. Sempre participamos do torneio, para revelarmos talentos para o futebol brasileiros. Destas negociações, é que conseguimos manter toda a nossa estrutura do clube funcionando”, garantiu o presidente José Porfírio, que acompanhou no Porto o nascimento de craques do quilate do volante Josué, do meia Araújo e do lateral-esquerdo Júnior Caruaru.
A decisão de não disputar a Série D do Campeonato Brasileiro, como também a de paralisar as atividades do futebol profissional, foi tomada pelo próprio presidente em sua segunda semana no cárcere. José Porfírio disse que não queria deixar o Porto à deriva, sem a presença de seu mandatário, em uma competição nacional. E foi além: garantiu que conseguiu antever a debandada dos patrocinadores, a partir da divulgação de sua prisão.
Com a desistência do Porto, a outra vaga pernambucana na Série D ficou para o arquirival Central. José Porfírio, inclusive, emprestou oito atletas para a Patativa disputar a competição. Enquanto alguns outros jogadores do elenco foram cedidos a equipes do Nordeste. A minoria que não foi negociada recebeu a ordem de voltar para casa. Eles seguem tendo seus salários pagos pelo clube.
“Foi uma forma encontrada para economizar recursos que serão utilizados nas divisões de base. Os atletas que não foram negociados estão em casa e assim não oneram nas despesas do nosso centro de treinamento”, disse José Porfírio.
O semblante cabisbaixo do presidente do Gavião só mudou quando lembrou orgulhoso dos dois vice-campeonatos pernambucanos conquistados pelo Porto, em 1997 e 1998. Feito que segue até hoje sem ser repetido por uma outra equipe do interior do Estado.